sexta-feira, 1 de junho de 2007

"INSÍPIDA, INODORA E INCOLOR"


O anunciado fechamento de 20 unidades de uma das mais tradicionais fabricantes de sapatos do país, a Calçados Reichert (matriz em Campo Bom, no Vale do Sinos), vai criar profundas dificuldades para muitos municípios pequenos do Estado. A empresa está entre as maiores exportadoras de calçados do país, não possui marca própria (só monta para outras marcas) e emprega cerca de 5.500 sapateiros. Em Crissiumal, por exemplo, a Reichert mantém 600 empregados e é responsável por cerca de 50% das carteiras assinadas do município. Situação semelhante vivem municípios como Boa Vista do Buricá, Humaitá e outros que reclamam do mutismo de Yeda em relação à crise. Em reunião na Famurs, na última quinta, o ex-deputado estadual e atual prefeito de Campo Bom, Giovani Feltes (do aliado PMDB), num discurso emocionado, não poupou a governadora classificando-a de “insípida, inodora e incolor”.

Prefeitos de Rolante (Pedro Rippel - PDT), Três de Maio (representado pelo vice Alceu Stein), o próprio presidente da Famurs, Glademir Aroldi (Saldanha Marinho - PP) e Flávio Lammel (Victor Graeff - PDT), consideraram insuportável a omissão do governo do Estado diante da crise do setor calçadista. As queixas são muitas, do transporte escolar aos serviços de saúde, mas a unanimidade é a retenção dos créditos de exportação que Yeda já avisou que não liberará tão cedo. Só de Crissiumal, a retenção atinge 500 mil reais. "A liberação desse dinheiro salvaria a minha vida", desabafou o prefeito Walter Heck (PSB). Sobraram também muitas críticas à morosidade com que o governo federal vem se movimentando para aplacar a crise do setor. De Brasília, os calçadistas esperam a desoneração do PIS/Confis e medidas complementares mais fortes como uma taxação ainda maior sobre as importações de produtos chineses.

Mas o que chamou mesmo a atenção foi a forte crítica à Yeda que, afinal, sequer honrou a primeira parcela do acordo para o repasse aos municípios, das verbas do transporte escolar. A propósito, sobre isso, a Famurs já pensa em ingressar na Justiça contra o governo do Estado. A crise do calçado passa pela questão do câmbio, sem solução a vista no curto prazo. Daí que só se pode pensar em medidas compensatórias para as empresas exportadoras, solução que, aliás, alguns economistas rechaçam porque, segundo eles, privilegia a incompetência. O setor calçadista, contudo, precisa de atenção especial pelo fato de ser um dos que mais emprega no país. Mas vale lembrar que Lei Kandir e câmbio livre foram pautas amplamente defendidas por todo o setor empresarial durante muito tempo. Eles sempre confiaram que o mercado regularia tudo. Pois o mercado está regulando. (Maneco)

Marco Weissheimer

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